quarta-feira, 16 de março de 2011

Japão

Uma amiga ( sort of ) dos tempos do liceu foi para o Japão após a licenciatura. Veio a Portugal à já mais de 5 anos e combinou um café, com o propósito - pensava eu! - de me espetar na cara o facto de ser feliz no outro lado do mundo.

Nada disso! Estava uma pessoa diferente. Falou-me de uma cultura completamente diferente, em que se podia perder a carteira tendo quase a certeza que lhe seria entregue eventualmente, falou-me da impressionante disparidade entre o Japão industrializado e o Japão rural, falou-se da beleza da língua, das palavras portuguesas que ainda constavam no dicionário japonês, falou-me em japonês (provavelmente chamou-me nomes), falou-me da religião, de como o Japão era fantástico e tudo o que eu poderia querer. Deixou-me com uma vontade indescritível de ir para esse país do Sol Nascente algum dia, visitar o Monte Edo, ver as árvores de que me falou em flor, pintando um quadro cor-de-rosa magnífico. Só tomámos esse café, que durou meio-dia, e separámos-nos indefinidamente. Ela voltou para o Japão e eu voltei para a minha vida pacata.

Sendo que ando sem tempo, caso quem me leia esteja numa situação semelhante, fique sabendo que dia 11 deste mês ocorreu um tenebroso sismo, que causou um maremoto (tsunami se preferirem) de elevadas proporções que devastou o Este do Japão.



É verdadeiramente trágico assistir a este vídeo e imaginar o terror que não será ver o mar galgar o paredão, arrastando tudo à sua passagem. É uma situação horrível que espero nunca viver. As estatísticas de hoje falam-nos de mais de 3 mil mortos e mais de 14 mil desaparecidos!

No entanto, nem tudo é terrível... ou como diz Murphy, podia ser pior. O Japão é o país que melhor preparado está para uma catástrofe deste estilo:
Todas as novas construções nas zonas industrializadas implementam tecnologias anti-sismo.
As cidades costeiras têm geralmente um paredão que separa o cais da cidade (semelhante ao que se pode ver na Costa da Caparica, se bem me recordo. :S ).
As autoridades são preparadas para este tipo de situações.
A cultura japonesa ajudará a elevar o país à sua antiga condição.

Um jornalista estrangeiro ficou surpreendido quando reparou que não havia pilhagens no Japão, algo que acontece _sempre_ quando ocorrem este tipo de desastres. Tem a ver com cultura, orgulho nacional, o facto de os lojistas (mostly) que se safaram terem baixado os preços a tudo e oferecido bens essenciais (água e pão).

E agora vocês pensam: "Ah e tal este gajo é maluco! Estará mesmo a ver lados positivos nisto?!". Imaginem que isto acontece em Portugal, um sismo com epicentro ao largo de Lisboa, a uns 100 Km... A baixa pombalina... Alfama, Santos, as zonas costeiras a enfrentar um tsunami que chegou a atingir 10 metros! E que resposta Portugal conseguiria dar?

Enfim, pelo menos não temos poder nuclear com o qual nos preocupar... a menos que os submarinos se espetem contra os pilares da Ponte 25 de Abril (its a joke!). :)

Não se preocupem, a rapariga em questão está boa de saúde. : )

Odeio catástrofes naturais,
Kenny.

PS: Acabo de reparar que me esqueci de referir algo importante: Google. Mal apareceram os primeiros avisos de sismo no Japão, a Google Japão inseriu no motor de busca um aviso que um enorme maremoto se dirigia para o continente (que foi depois alastrado para outros países do sudeste asiático ). E depois do sismo criou mecanismos para as pessoas se encontrarem umas às outras, uma forma simples de doar e um gabinete de crise. Google did well (don't be evil, for once), Facebook did nothing. :x

6 comentários:

gauthma disse...

Também tenho imensa vontade de conhecer o Japão, mas tenho adiado os planos desde de que esses senhores começaram a fazer fingerprinting aos estrangeiros... damn security state. Nem em Israel se chega a este cúmulo...

Que palavras em portuguesas ainda constam no dicionário japonês?

Kenny disse...

Estranhamente são algumas dezenas. Eu lembro-me de poucas, e até a forma de as escrever não é muito diferente (apesar de eu não saber, obviamente, escrever japonês, nem mesmo usando esta codificação ocidental).

Salada, sabão, candeia, choro, espada... e depois muitas que identificam países europeus (Holanda, Itália, Espanha) ou continentes (Europa, África) e montes e montes de palavras que foram introduzidas aquando da cristianização do Japão (Amen, Santa Maria, Jesus, irmão, padre, missa...). Há muitas e eu já não me lembro bem delas. :p

Bugs disse...

Não gostas mesmo do face :X .... As redes sociais foram uma mais valia nesta tragédia.
fonte: http://olhardigital.uol.com.br/produtos/digital_news/noticias/redes_sociais_estao_sendo_vitais_na_comunicacao_entre_os_japoneses

E deu numa reportagem num jornal ou sic ou rtp, que de facto o facebook estava a permitir as vitimas contactarem entre si e entre os familiares, dando noticias ao minuto.

Não consegui encontrar a reportagem, mas na minha pesquisa encontrei algo curioso:

http://www.ipjornal.com/noticias-entretenimento/434104_gilbert-gottfried-demitido-por-piadas-sobre-o-sismo-no-japao.html

e

feira no desemprego por ter facebook:
http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=417578&&headline=20&visual=9&tm=7&

Kenny disse...

@Não tem nada a ver com gostar ou não de Face! O que saliento é que a Google é que fez o esforço extra para ajudar. Nas redes sociais as próprias pessoas ajudam-se porque contactam umas com as outras, visto que a estrutura de comunicações do país está muito danificada. Portanto o Livro na Tromba falhou, quando podia ter capitalizado. No Twitter foram mesmo implementadas soluções semelhantes às apresentadas pela Google.

O resto de notícias são irrelevantes para o tema, apesar de considerar a piada do Mr Gottfried engraçada. :-S

E só como nota, eu não gosto é da Google e das suas políticas, no entanto uso Gmail, Blogger, YouTube e um monte de serviços implementados ou adquiridos pela Google.

Bugs disse...

Ok, então posso dizer que o facebook através dos seus jogos está a angariar fundos para as vitimas da tragédia no japão... prontos assim estão a ajudar de forma activa. :P

em relação as noticias que tinhas postado, sim não têm nada relacionado com o tema... foi apenas cuirosidade.. Em relação as piadas, eu também achei graça :P

Kenny disse...

A catástrofe já foi na passada semana. Google e Twitter responderam prontamente, o Facebook não teve nada de oficial.

Mesmo os jogos não são desenvolvidos pelo Facebook!

Agora não sei como está, mas li uma crítica ontem (foi o que me levou a escrever o Post Scriptum) em que analisava tudo o que foi feito pela Google e tudo o que o Facebook poderia ter feito e não fez... portanto tão errado não devo estar. :\

Claro que, não tendo FB, tenho de acreditar nas informações que me chegam, e essas dizem-me que oficialmente o FB não tinha feito nada nos dias seguintes à catástrofe. Os seus utilizadores é que usaram o FB para encontrar outros utilizadores, e agora - segundo contas - há jogos que fazem doações (os jogos do FB não são - mostly - desenvolvidos pelo FB!)

A comparação é portanto ridícula. A Google já fez doações (dinheiro da própria empresa), criou todos os mecanismos discutidos, enviou não-sei-quem para o Japão avaliar os estragos (provavelmente com o objectivo de descobrir novas 'áreas' de negócio, if you know what I mean)...

O FB oficialmente já deve ter implementado algo, mas honestly, já vai tarde para capitalizar na situação. Pois é disso que se trata, marketing -> imagem pública -> €€€ / $$$