Pelo menos foi assim que interpretei a situação. Vi como o que fora construído não valia de nada, como não há nada que valha a pena quando a única coisa em que confiamos falha. Era o meu suporte moral, um telhado em que me abrigava, o meu confessionário privado, era o meu tudo.
Ver isso assim é extremo - claro! dah! - mas é impossível racionalizar as coisas quando não temos um porto seguro, um refúgio onde organizar ideias. E eu tinha perdido as ideias, os planos, a vida!
Não via futuro, não via esperança e não via certamente solução. Era tudo obscuro, o mundo já não era justo, infantil e belo. O romanticismo morreu nesse dia. O mais humano Kenny que alguma vez existiu foi enterrado nesse dia e ainda hoje está desaparecido.
Enfim, não era este o caminho que queria dar a esta mensagem mas vi ontem um filme: "The Five-Year Engagement". Nesse filme identifiquei-me com o actor principal em tudo menos no final feliz. Deixou-me macambúzio, triste e sem alento.
E fez-me pensar.
Há mais de um ano que não me consigo sequer imaginar com alguém. Sempre me voltei a apaixonar pela mesma pessoa - uma noite à conversa geralmente é o suficiente para me cativar. - e nunca estive sequer perto de concretizar, de fechar o círculo.
E assim tornei-me frio. Tornei-me muito frio. E não digo com relações ou mulheres, digo com tudo. Frio, calculista, severo, frontal e sem escrúpulos. E quando se insinua em mim qualquer sentimento, depressa consigo racionalmente assassiná-lo, enterrá-lo e esquecê-lo. Ao fim de alguns tempos torna-se natural, uma brincadeira, e ao fim de anos torna-se parte de nós.
Mas pensamos.
Pensei em como me tornei uma pessoa azeda, um brinquedo quebrado, um corpo sem alma, uma luz fria, um eco distante, um Sol sem Lua quando na verdade não passo de um romântico frustrado.
Pensei se na verdade não teria sido eu o culpado. Eu é que fugi. Tentei seguir em frente, vindo literalmente parar a outro sítio...
E isso fez-me recordar.
Recordar é bom. Mas ninguém recorda o futuro. Recordar não é viver, recordar é passado, viver é o presente. Não é a recordar que se planeia uma vida, é a imaginar. A imaginação é o que nos guia. A ambição e o trabalho levam-nos a qualquer lado. E a inteligência é um excelente colchão, que nos impulsa e nos apara.
E ontem imaginei...
Começo a perder-me no imenso enredo racional que teci.
Kenny.